24.1.10

Casario de Aveiro

Não sei se foi a capela de S. Gonçalinho que inspirou (também) uma forma particular de arquitectura no casario dos bairros de Beira-Mar e Vera Cruz. Ou se aquelas águas-furtadas apenas visavam alcançar um horizonte mais longínquo, cheio de luz e de Ria. Ou se a tradição é tão antiga que já se desconhecem as razões. Talvez a ignorância seja minha. Naquele dia, começava um novo ano. Boa razão para tirar os olhos do chão e olhar para cima. Descobri esta regularidade no topo do mundo de várias casas. Como um sinal de pertença.



Fotos MRF
2-01-2010

2 comentários:

João Cardielos disse...

Rosário, é absolutamente delicioso o modo descomprometido como reune, neste unitário registo fotográfico, tantos e tão desconcertantes elementos arquitectónicos que, a mim, talvez por preconceito ou pudor, me estariam sempre vedados.
O rigor tecnico-profissional, ou "científico" a que o registo me iria obrigar, impedirme-ia sempre de colar verdades construídas que são, tão consistentemente, falsas construções patrimoniais a que a história, e as estórias, dariam facilmente outro sentido, desmontando a candura com que se propõe tão simplesmente o óbvio deslumbramento.
É precisamente esse registo visual, gráfico, que eu agradeço e aqui estimulo, porque a cidade e a vida que ela comporta cerecem deste rigor genuíno.
Tão genuíno como a falsa verdade urbana que o suporta.
Na realidade, não podemos cruzar a verdade do património construído com a verdade do espaço urbano construído, sem falar da traição que se perpetra cada dia, e que vai atraiçoando a memória e minando o conhecimento real das raízes, das tradições e dos elementos verdadeiros. Estes, por estarem documentados e serem conhecidos, merecem-nos em paralelo o olhar culto, crítico e informado, que separa analiticamente e se encanta, apenas até ao limite possível e razoável, permitido pelo saber.
Com toda a certeza, deveremos saber cuidar do pitoresco, e também do património, com o devido equilíbrio. Merecem-nos respeito e dedicação, mas não podemos iludir-nos com a falácia, que frequentemente converte a cidade em parque temático, do qual excluímos o génio verdadeiro do presente, e a consistência que o colectivo transporta em cada época para o seu território de proximidade, como expressão do seu valor. Não há que ter "medo de existir", hoje, encarando a outra cidade e revelendo as não verdades, ou inverdades, que a constroem de modo dissimulado, assobiando para o ar ou disfarçando o gesto. Também é disso mesmo que este registo fala com um vigor fantástico, e uma desconcertante inocência!
Parabéns e até breve.

Maria do Rosário Sousa Fardilha disse...

João, obrigada pela simpatia e pelas palavras---- que nos levam a reflectir. Mantenho a curiosidade em relação a possíveis denominadores comuns, mesmo tendo em conta o desvirtuamento e o jogo de falsas ilusões construídas ao longo do tempo.

Um abraço

Rosário Fardilha